Eles estão entre nós (e no fundo do mar): o submarino que funciona sem tripulação

Testes ultra secretos, inteligência artificial de ponta e missões submersas de mais de mil milhas — descubra o que está por trás do projeto do submarino mais inovador e tecnológico do mundo
Submarino autônomo Dive-XL sendo testado na Flórida pela Anduril Industries

Um dos nomes mais quentes — e discretamente poderosos — da nova era da tecnologia de defesa global, a Anduril Industries, avaliada em impressionantes US$ 28 bilhões, escolheu a cidade de St. Petersburg, na Flórida, como palco para um dos projetos mais ousados do setor: o teste de seu novo submarino autônomo de grande porte, batizado de Dive-XL.

A escolha não foi aleatória. Com um portfólio que desafia as convenções da indústria militar tradicional, a Anduril vem se consolidando como a “startup que pensa como Big Tech e entrega como indústria de defesa”. Fundada por Palmer Luckey, criador do Oculus VR (vendido ao Facebook/Meta por US$ 2 bilhões), a empresa vem atraindo bilhões em investimentos e a atenção direta do Departamento de Defesa dos EUA — além de parceiros globais como a Marinha da Austrália.

Seu diferencial? Uma abordagem radicalmente inovadora na integração de sistemas autônomos terrestres, marítimos e aéreos, apoiados por inteligência artificial embarcada. Na prática, veículos que operam de forma independente, sem intervenção humana, em cenários e missões complexas — algo que está se tornando um ativo estratégico indispensável para as forças armadas do século 21.

Agora, o Dive-XL, um dos veículos mais ambiciosos da nova geração de AUVs (Autonomous Underwater Vehicles), ganha vida e profundidade em um dos polos mais dinâmicos de tecnologia marinha dos EUA: o Maritime and Defense Technology Hub, situado no Innovation District de St. Petersburg.

“A infraestrutura do Hub é ideal para este tipo de operação: acesso rápido ao Golfo do México, suporte logístico, proximidade com a U.S. Coast Guard e sinergia com instituições acadêmicas. Para nós, foi uma escolha natural”, afirma William Rose, gerente de programa da Anduril, que lidera as missões de teste no local.

Fique por dentro!

Você sabia?

Apesar de todos os avanços em IA, o ambiente subaquático segue sendo um dos maiores desafios para sistemas autônomos. GPS não funciona em profundidade, sinais de rádio são bloqueados e até o som — principal meio de navegação — sofre distorções causadas por pressão, temperatura e salinidade.

Segundo a DARPA, operar um AUV (veículo autônomo subaquático) em águas profundas exige algoritmos de navegação e mapeamento extremamente sofisticados — uma verdadeira fronteira tecnológica.

Autonomia extrema: o futuro submerso da defesa

Ao contrário dos veículos submarinos remotamente operados (ROVs), que dependem de cabos e controle humano em tempo real, o Dive-XL foi projetado para operar de forma totalmente autônoma — navegando, executando missões e tomando decisões a partir de sua inteligência embarcada.

Essa autonomia extrema é justamente o que a Marinha dos EUA, e parceiros como a Royal Australian Navy, vêm buscando há anos. Não se trata apenas de reduzir custos ou riscos para tripulações humanas — trata-se de expandir as capacidades estratégicas de monitoramento, dissuasão e ação em um cenário global cada vez mais competitivo e tecnológico.

O Dive-XL já completou 100 horas submerso em testes na Califórnia e agora mira um novo marco: uma jornada de mais de 1.000 milhas náuticas totalmente submerso — algo poucas plataformas no mundo seriam capazes de realizar hoje.

E há mais: o veículo é modular e versátil, com capacidade de carregar cargas variadas — sensores, pacotes de comunicação, armamentos — o que o torna uma plataforma adaptável para diferentes tipos de missão, que vão desde pesquisa científica até caça a submarinos inimigos.

 

Uma startup que financia sua própria inovação

Diferentemente das grandes contratistas tradicionais do setor de defesa, a Anduril adota um modelo de inovação acelerada, com investimento privado robusto — boa parte do desenvolvimento do Dive-XL e outros projetos é financiado com capital próprio da empresa, garantindo agilidade e foco.

Desde 2024, a empresa vem colhendo frutos dessa abordagem: um contrato de US$ 99 milhões com o Defense Innovation Unit, entregas para o programa australiano Ghost Shark, e um novo ciclo de parcerias com o Comando de Operações Especiais (SOCOM) dos EUA, que começa a integrar os sistemas da Anduril em suas operações de múltiplos domínios (terra, mar e ar).

Não à toa, os bastidores de Wall Street e do Vale do Silício comentam que há uma “corrida frenética por ações da empresa”, com investidores tentando garantir um pedaço de um dos negócios mais promissores do setor.

 

St. Pete como novo hub para a defesa marítima?

Por ora, a presença da Anduril em St. Petersburg é temporária. Mas o potencial para que a cidade se torne um polo fixo para testes e desenvolvimento de tecnologias de defesa é claro — e cresce a cada novo projeto.

“Existe sempre a possibilidade de uma presença mais permanente por aqui. A empresa está crescendo rápido, e este é um ambiente com muita sinergia”, diz William Rose.

De fato, o Maritime and Defense Technology Hub já abriga outras empresas de ponta, como a Saildrone, e atraiu olhares nacionais como uma plataforma emergente para a nova era da defesa marítima inteligente.

Como reforça Lauren Bell, community manager do Hub:

“A presença da Anduril mostra que o que estamos construindo aqui está funcionando: estamos consolidando St. Pete e o Innovation District como um verdadeiro testbed global para pesquisa marinha e tecnologias de defesa de última geração.”

Com um mercado global que se move rapidamente para sistemas autônomos, movidos por IA e com capacidades multi-domínio, é seguro dizer que o que está sendo testado nas águas de St. Pete hoje poderá moldar o futuro da segurança global nos próximos anos.

Compartilhe esta notícia:

Assine a newsletter gratuita do SmarterFeed

Assine nossa newsletter

O futuro da inovação, agora.