Um estudo recente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Instituições de Ensino Superior (FENATI) revelou um dado preocupante para a economia brasileira: apesar do crescimento de 3,9% na produtividade do trabalho entre 2023 e 2024, o país continua abaixo de nações que possuem jornadas mais curtas. O relatório evidencia que o aumento da carga horária não tem se traduzido em maior eficiência produtiva, um fator crítico para a competitividade global.
O levantamento analisou setores estratégicos da economia e identificou que, em diversas áreas, a produtividade brasileira não apenas cresce de forma lenta, mas também sofre com variações instáveis. A falta de políticas de longo prazo para impulsionar a eficiência operacional nas empresas tem sido um entrave para o crescimento sustentável da economia nacional.
Comparação com outros países
O estudo comparou a produtividade do Brasil com a de países como Alemanha, França e Holanda, onde a carga horária semanal é, em média, menor do que no Brasil. Enquanto um trabalhador brasileiro atua, em média, 44 horas por semana, na Alemanha esse número gira em torno de 35 horas. Apesar disso, a produção por hora trabalhada nos países europeus analisados é significativamente maior.
Essa discrepância ocorre porque esses países adotam estratégias que combinam inovação tecnológica, qualificação profissional contínua e gestão mais eficiente. No Brasil, muitas empresas ainda enxergam a produtividade apenas sob a ótica do tempo de trabalho, sem considerar a qualidade e a otimização dos processos.
Além disso, o estudo aponta que a diferença na produtividade também está ligada à cultura organizacional. Em países como a Dinamarca e a Suécia, o foco não está em longas jornadas, mas sim em resultados. Com isso, os trabalhadores são incentivados a serem mais eficientes dentro do expediente, reduzindo retrabalho e desperdícios.
Fatores que impactam a produtividade
O estudo destaca alguns fatores determinantes para a baixa produtividade brasileira:
- Baixo investimento em tecnologia – Muitas empresas ainda operam com processos obsoletos e pouca automação.
- Deficiências na qualificação profissional – O Brasil enfrenta desafios no ensino técnico e na formação contínua dos trabalhadores.
- Cultura de horas extras – A crença de que mais horas trabalhadas significam maior produtividade ainda é predominante.
- Infraestrutura precária – Problemas logísticos e de transporte afetam diretamente o rendimento do setor produtivo.
- Gestão ineficaz – Muitas empresas ainda não adotam metodologias eficientes de organização do trabalho.
- Baixa digitalização – Enquanto países desenvolvidos têm grande parte da sua operação digitalizada, o Brasil ainda está atrasado na adoção de ferramentas modernas para automação e gestão de dados.
- Excesso de burocracia – A complexidade tributária e regulatória dificulta a modernização e o crescimento das empresas.
A relação entre qualidade de vida e desempenho
O estudo também ressalta a relação entre bem-estar e produtividade. Países que adotam jornadas menores possuem maior satisfação dos trabalhadores, o que impacta positivamente no desempenho. Além disso, políticas de incentivo ao equilíbrio entre vida profissional e pessoal, como a flexibilização do trabalho remoto, têm mostrado resultados positivos na Europa e nos Estados Unidos.
No Brasil, no entanto, a cultura da exaustão ainda é uma realidade. Muitos trabalhadores enfrentam longas jornadas, com pouco tempo para descanso e lazer. Isso reduz o engajamento e aumenta os índices de absenteísmo, impactando diretamente a produtividade. O estudo sugere que empresas brasileiras precisam adotar um novo modelo de trabalho, baseado na eficiência e na valorização do colaborador.
Possíveis soluções para o Brasil
Para que o Brasil melhore seus índices de produtividade sem recorrer ao aumento de carga horária, o estudo sugere algumas ações estratégicas:
- Incentivo à inovação – Maior investimento em novas tecnologias e digitalização dos processos industriais.
- Revisão dos modelos de gestão – Adoção de metodologias ágeis e maior foco em resultados.
- Capacitação contínua – Programas de treinamento para qualificação dos profissionais em áreas estratégicas.
- Políticas públicas de infraestrutura – Melhoria no transporte, comunicação e suporte logístico para empresas.
- Promoção do bem-estar – Criação de políticas empresariais que incentivem equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
- Redução da burocracia – Simplificação de processos regulatórios para facilitar a inovação e o crescimento empresarial.
- Fomento ao trabalho híbrido – Alternância entre trabalho presencial e remoto para aumentar o foco e reduzir desgastes.
Não é só questão de quanto tempo se trabalha
O estudo da FENATI reforça que produtividade não se trata apenas de carga horária, mas de eficiência e qualidade do trabalho realizado. Países que apostam em inovação, capacitação profissional e bem-estar dos funcionários colhem melhores resultados econômicos.
Se o Brasil deseja aumentar sua competitividade no cenário global, precisa rever sua cultura de longas jornadas e investir em modelos produtivos mais inteligentes, que priorizem tecnologia, capacitação e melhores condições de trabalho. Somente com uma abordagem mais moderna e estratégica será possível impulsionar a produtividade e garantir um crescimento sustentável para o país.