O setor industrial brasileiro iniciou 2025 de forma tímida, com resultados abaixo do esperado. Segundo dados do IBGE, a produção industrial teve variação nula em janeiro, frustrando analistas que esperavam um início mais acelerado do ano. Ainda que tenha havido crescimento em relação a janeiro de 2024, o ritmo revela sinais de estagnação.
De acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a produção industrial deverá crescer 1,3% ao longo de 2025. A projeção considera o arrefecimento de políticas de estímulo fiscal, os altos custos do crédito, um cenário internacional instável e um nível de investimentos abaixo do necessário para reverter gargalos históricos na produtividade brasileira. “A indústria ainda opera com muita ociosidade e enfrenta um ambiente macroeconômico pouco estimulante”, destacou a Fiesp em nota divulgada pela Agência Brasil.
Essa realidade reflete um ciclo mais longo de baixa performance do setor, que, mesmo após o choque da pandemia e os avanços tecnológicos recentes, não conseguiu recuperar níveis robustos de crescimento. A falta de previsibilidade e a carga tributária elevada também são apontadas por empresários como entraves para a retomada.
Recuperação moderada e dependente da política econômica
Para além das previsões positivas, há um alerta claro vindo de entidades como o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI): o desempenho da indústria só será sustentável com uma política industrial articulada, com foco em inovação tecnológica, qualificação profissional e incentivo à produção nacional.
A publicação da Exame reforça esse panorama ao mostrar que o resultado de janeiro ficou aquém do esperado por economistas do setor. A retomada é vista como possível, mas frágil. Fatores como a taxa de juros ainda elevada, instabilidade no câmbio e lentidão nas reformas estruturais continuam limitando a capacidade de expansão. O investimento público, historicamente essencial para alavancar obras de infraestrutura, cadeias produtivas e modernização industrial, permanece em níveis baixos, comprometendo a confiança de parte do setor privado.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor industrial precisa de maior previsibilidade para destravar o investimento privado. A entidade reforça a necessidade de uma agenda de competitividade focada em desburocratização, acesso a crédito e apoio à transformação digital, principalmente nas pequenas e médias empresas, que representam a maioria do parque industrial brasileiro.
Transformação digital e produtividade como saídas estratégicas
Apesar do cenário desafiador, existem oportunidades que podem ser catalisadoras de crescimento. Uma delas é a transformação digital da indústria. Programas como o Brasil Mais Produtivo, lançado pelo Governo Federal com apoio do SENAI, Sebrae e ABDI, destinam R$ 2 bilhões para modernizar cerca de 3 mil empresas até 2027. A iniciativa oferece consultorias em Lean Manufacturing, Eficiência Energética e Indústria 4.0, além de fomentar a capacitação de equipes e a cultura de melhoria contínua.
A tecnologia aparece como elemento-chave para a produtividade industrial. Segundo o Mapa Estratégico da Indústria da CNI, a adoção de automação, Internet das Coisas (IoT), sistemas integrados de gestão e análise de dados será essencial para tornar o setor mais competitivo, especialmente frente às exigências do mercado global. O uso de ferramentas como inteligência artificial e manufatura avançada pode reduzir custos, aumentar a eficiência e gerar novos modelos de negócio.
Além disso, a capacitação da mão de obra vem ganhando espaço como uma prioridade. Entidades como o SENAI estão ampliando a oferta de cursos técnicos e programas de requalificação voltados para a indústria digital, com foco em competências como análise de dados, controle de processos, robótica e sustentabilidade.
Crescimento possível, mas depende de ação coordenada
O crescimento de 1,3% previsto pela Fiesp é, sem dúvida, um alívio frente à estagnação observada nos últimos anos. No entanto, o número, por si só, não garante uma recuperação sustentável da indústria brasileira.
Será necessário um esforço conjunto entre setor público e privado para superar os gargalos estruturais e aproveitar as oportunidades tecnológicas que estão à disposição. Reformas tributária e administrativa, investimento em infraestrutura logística e digital, além de políticas industriais inteligentes e de longo prazo, serão decisivas para transformar expectativas em resultados concretos.
O Brasil tem capacidade instalada, capital humano e know-how industrial. Mas, para converter isso em produtividade e competitividade global, é preciso mais ação coordenada, planejamento estratégico e políticas públicas que dialoguem com as necessidades reais das empresas. Se bem aproveitado, 2025 ainda pode ser o ano em que a indústria brasileira retoma seu protagonismo.