O Ceará encerrou 2024 com um desempenho notável em produtividade, superando com folga a média nacional tanto por pessoa ocupada quanto por hora trabalhada. Segundo dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), o estado registrou crescimento de 5,48% na produtividade por pessoal ocupado e 5,80% por hora trabalhada. Enquanto isso, o Brasil, em seu desempenho agregado, obteve aumentos modestos de apenas 0,24% e 0,08%, respectivamente.
Esses resultados expressivos refletem não apenas maior eficiência no uso da força de trabalho, mas também o amadurecimento de uma política de desenvolvimento regional focada na qualificação profissional, inovação produtiva e estímulo a setores estratégicos. O crescimento médio acumulado da produção no Ceará foi de 6,71%, com aumento de apenas 1,16% no número de trabalhadores, uma equação que comprova ganhos reais de produtividade. Para o analista de Políticas Públicas Alexsandre Lira Cavalcante, esse salto é reflexo de maior organização dos fatores de produção e da redução do desperdício operacional no uso do capital humano.
Agropecuária impulsiona produtividade cearense
Um dos grandes destaques do avanço da produtividade em 2024 foi o desempenho da agropecuária. No Ceará, a produtividade por pessoal ocupado nesse setor cresceu 26,0%, em contraste com um modesto 0,48% no cenário nacional. Isso se deve, em parte, à incorporação de tecnologias de precisão no campo, ao uso mais racional de insumos e à gestão mais estratégica das propriedades rurais. A produção agropecuária do estado avançou 25,16%, mesmo com uma leve redução de 0,67% na ocupação do setor, evidenciando ganhos substanciais de eficiência.
Na produtividade por hora trabalhada, o salto foi ainda mais expressivo: alta de 28,67% no Ceará contra 1,13% no Brasil. Esse desempenho se alinha com uma tendência nacional de modernização do agronegócio, porém, no caso cearense, o avanço foi mais acelerado devido ao investimento público em capacitação técnica e ao uso crescente de ferramentas de gestão agrícola digital. Instituições como o SENAR, EMBRAPA e Sebrae têm contribuído fortemente para essa evolução, promovendo ações integradas de inovação no campo.
Indústria e serviços também apresentam avanços sólidos
O setor industrial do Ceará demonstrou resiliência e recuperação robusta, refletindo políticas de estímulo à produção e à inovação tecnológica. A produtividade por pessoa ocupada cresceu 7,61% no estado, enquanto o Brasil apresentou retração de 0,23%. Por hora trabalhada, o crescimento cearense foi de 7,19%, frente a uma queda de 0,52% no Brasil. Segundo dados do IBGE e da CNI, o desempenho industrial do estado tem sido puxado por setores como alimentos e bebidas, energias renováveis e têxteis, com ganhos de competitividade e diversificação de mercado.
No setor de serviços, tradicionalmente menos intensivo em capital e com menor produtividade média, o Ceará também conseguiu avançar. A produtividade por pessoa ocupada cresceu 3,30% no estado, contra 0,24% no Brasil. Por hora trabalhada, o crescimento foi de 3,62%, enquanto a média nacional foi praticamente nula (0,06%). Essa melhoria está relacionada à digitalização de serviços, maior qualificação dos profissionais e ao crescimento de setores de alto valor agregado, como tecnologia da informação, logística e serviços financeiros.
Perspectivas para o futuro da produtividade no Ceará
O desempenho cearense em 2024 reforça a importância de estratégias integradas para o desenvolvimento da produtividade, que combinem inovação, capacitação e políticas públicas eficientes. O estado tem demonstrado capacidade de alinhar crescimento econômico com racionalização do uso dos recursos humanos, o que se traduz em maior competitividade regional e sustentabilidade no médio e longo prazo. Para especialistas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), o Ceará se posiciona como um dos poucos estados brasileiros que conseguiu transformar crescimento econômico em produtividade real nos últimos anos.
Manter esse ritmo dependerá da consolidação de políticas focadas em educação técnica, investimento em infraestrutura logística e fomento à inovação empresarial. Além disso, a continuidade da articulação entre os setores público, privado e terceiro setor será essencial para manter o Ceará na vanguarda da produtividade nacional. Com um ambiente cada vez mais propício ao empreendedorismo e à inovação, o estado pode se consolidar como modelo para o restante do país.