Brasil ocupa última posição em ranking de competitividade industrial da CNI

O último lugar no ranking da CNI destaca a necessidade urgente de reformas estruturais para a indústria brasileira, que enfrenta altos custos, baixa qualificação e infraestrutura deficiente
Portal da Produtividade - Desafios Crônicos: O Brasil no Pódio da Ineficiência Industrial

O Brasil ficou na 18ª e última colocação do mais recente Ranking de Competitividade Industrial, divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O estudo compara o desempenho de economias com estrutura produtiva semelhante à brasileira e presença nos principais mercados internacionais. A análise leva em conta oito fatores estratégicos: ambiente macroeconômico, infraestrutura, educação, inovação, mercado de trabalho, sistema tributário, ambiente regulatório e financiamento.

O levantamento revela um cenário crítico para o setor industrial nacional, que enfrenta entraves históricos de produtividade, baixo desempenho educacional e custos operacionais elevados. Países como Coreia do Sul, Canadá e Austrália, que lideram o ranking, oferecem ambientes institucionais favoráveis, investimentos sólidos em inovação e políticas industriais modernas, características que ainda são desafios no contexto brasileiro.

 

Ambiente econômico e educação: entraves estruturais à produtividade

O ambiente econômico brasileiro, marcado por instabilidade e altas taxas de juros, é um dos principais obstáculos ao crescimento industrial. A taxa Selic, por exemplo, historicamente elevada, encarece o crédito e restringe investimentos. De acordo com dados do Banco Mundial, a taxa real de juros no Brasil é uma das mais altas entre os países emergentes, o que torna o ambiente de negócios pouco atrativo e limita a competitividade.

Além disso, o desempenho educacional do Brasil continua aquém do necessário para sustentar uma economia industrial moderna. Segundo o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), os estudantes brasileiros têm desempenho inferior à média da OCDE em leitura, matemática e ciências. A formação técnica também é insuficiente: apenas 10% dos jovens do ensino médio estão matriculados em cursos profissionalizantes, enquanto países como Alemanha superam os 40%. Isso impacta diretamente a qualificação da mão de obra industrial.

 

Infraestrutura, tributação e burocracia: um sistema que limita o crescimento

A precariedade da infraestrutura logística nacional é outro fator de peso. Segundo levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT), mais de 60% das rodovias pavimentadas estão em condições regulares ou ruins, prejudicando o transporte de cargas e elevando os custos operacionais. Além disso, a dependência excessiva do modal rodoviário, que responde por cerca de 65% da carga transportada, torna o sistema logístico brasileiro mais caro e vulnerável.

No campo tributário, a complexidade e o custo são apontados como gargalos centrais. O relatório Doing Business do Banco Mundial estima que uma empresa brasileira gasta cerca de 1.500 horas por ano para cumprir obrigações fiscais, número que contrasta com as 600 horas da média latino-americana e as 160 horas da média da OCDE. A burocracia tributária, somada à elevada carga sobre a produção, desestimula investimentos e penaliza a indústria nacional.

 

Políticas públicas e nova estratégia industrial: luz no fim do túnel?

Em resposta aos desafios apresentados, o governo federal lançou a estratégia “Nova Indústria Brasil” (NIB), que prevê R$ 507 bilhões em investimentos até 2026. A política está estruturada em seis missões estratégicas voltadas à inovação, transição energética, neoindustrialização e sustentabilidade. A ideia é fortalecer a base produtiva nacional e torná-la mais conectada com os novos paradigmas da economia digital e verde.

Especialistas da própria CNI e de entidades como o IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) defendem que, para a NIB ter sucesso, é essencial que ela se articule com uma agenda de reformas estruturais. O fortalecimento de ecossistemas regionais de inovação, a digitalização das cadeias produtivas e a valorização do capital humano são componentes-chave para transformar a política industrial em resultados concretos de competitividade.

 

A urgência de um novo pacto pela competitividade brasileira

A posição do Brasil no ranking da CNI serve como alerta para todos os setores envolvidos com o desenvolvimento industrial. A superação das fragilidades exige uma atuação coordenada entre governo, setor produtivo, instituições de ensino e sociedade civil. Reforma tributária, modernização da infraestrutura, estímulo à educação técnica e um ambiente de negócios mais estável são pré-requisitos para qualquer avanço sustentável.

Apesar das dificuldades, o Brasil possui ativos importantes: uma base industrial diversificada, vocação exportadora, vasto mercado interno e capacidade de inovação. Contudo, transformar esse potencial em vantagem competitiva requer mais do que investimentos pontuais: é necessário um compromisso contínuo com a eficiência, a produtividade e a geração de valor. A competitividade industrial é mais que um desafio, é o caminho para o desenvolvimento econômico duradouro.

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