Estratégias para as montadoras se adaptarem ao mercado centrado no consumidor

O mercado automotivo está em plena revolução, impulsionado por consumidores conscientes e pressões regulatórias que exigem das montadoras soluções inovadoras, com foco em sustentabilidade, eficiência e economia circular.
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Quando um cliente acessa o site de uma montadora no Brasil, em busca de um novo modelo de veículo, é imediatamente atraído por uma vasta gama de opções: diversas funcionalidades, cores, tipos de motorização, câmbio manual ou automático, e uma infinidade de acessórios, que mais se assemelham a um shopping virtual. “Compre online. A forma moderna de adquirir um carro”, anuncia o site.

A proposta parece irresistível. Contudo, ao avançar um pouco mais na navegação, surge uma surpresa: “Estoque não disponível no momento”, informa o site. O que parecia ser uma experiência simplificada e eficiente de compra de veículos acaba se tornando uma frustração devido a problemas na cadeia de suprimentos. Em vez de uma consulta direta ao inventário, os consumidores são redirecionados para a concessionária local, onde podem descobrir que o modelo desejado está indisponível ou que a revendedora não faz parte do programa.

Esses cenários ilustram os desafios enfrentados pelas montadoras brasileiras em um mercado cada vez mais disruptivo, marcado por inovações tecnológicas, aumento da demanda por veículos sustentáveis, mudanças nas preferências de mobilidade e, naturalmente, dificuldades logísticas.

Para prosperar nesse cenário, as montadoras precisam inovar em cinco áreas estratégicas cruciais:

 

A Busca pela Sustentabilidade

Consumidores, reguladores, legisladores e outros stakeholders estão enviando uma mensagem clara às montadoras: priorizem a redução da pegada de carbono, a eficiência de recursos e a economia circular nos produtos, serviços e em toda a cadeia de valor.

Além da pressão para tornar suas operações mais sustentáveis, mudanças nas políticas e preferências de compra estão impulsionando uma demanda crescente por veículos elétricos (VEs) e outros tipos de tecnologias avançadas de propulsão. Em 2024, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), as vendas de VEs no Brasil cresceram 30% em relação ao ano anterior, refletindo uma mudança no comportamento do consumidor. Empresas como a Stellantis e a Volkswagen do Brasil já se comprometeram a comercializar apenas veículos de emissão zero nos próximos 10 a 15 anos. “As expectativas dos consumidores estão claramente voltadas para a sustentabilidade como critério de decisão de compra,” observa Carla Almeida, analista da consultoria brasileira Bright Consulting.

Essa pressão pela sustentabilidade não se limita aos produtos vendidos, mas abrange as operações das montadoras e de seus parceiros na cadeia de valor. Iniciativas como o programa Indústria Verde, liderado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), reúnem empresas do setor automotivo para alcançar metas de redução de carbono por meio de padrões uniformes de troca de dados ao longo da cadeia, utilizando ferramentas como o gêmeo digital compartilhado. Fornecer dados aos recicladores para embasar decisões sobre reutilização, reciclagem ou recuperação de componentes automotivos é um dos focos do programa.

Seja individualmente ou em redes colaborativas, as montadoras têm uma oportunidade única de usar suas iniciativas de sustentabilidade para ganhar vantagem competitiva. Isso exige rastrear materiais, peças e componentes ao longo da cadeia de valor e aprimorar processos internos para projetar e fabricar com sustentabilidade em todo o ciclo de vida do produto.

 

Carros Conectados

Embora ainda leve tempo para que as pessoas possam relaxar e deixar o carro dirigir sozinho, os avanços em sistemas de carros conectados e assistência ao motorista estão pavimentando o caminho para a transição à mobilidade autônoma. Enquanto isso, permitem que montadoras como a Fiat ofereçam uma experiência mais rica e repleta de serviços dentro dos veículos.

Construir uma infraestrutura baseada em nuvem para comunicação veículo-tudo (V2X), impulsionada por tecnologias inteligentes como LIDAR e sensores de Internet das Coisas (IoT), ajuda montadoras e seus parceiros (concessionárias, prestadores de serviços, etc.) a coletar e compartilhar dados. Isso cria serviços de entretenimento, produtividade e mobilidade que os clientes desejam, abrindo novas fontes de receita. O veículo se torna uma plataforma para entregar serviços de valor agregado, como manutenção preditiva, disponibilidade de pontos de recarga e ofertas de parceiros alinhadas ao estilo de vida do consumidor.

Nesse contexto, todos os envolvidos fazem parte de uma rede construída em torno do gêmeo digital do veículo, e os dados gerados pelo carro conectado se tornam uma “emissão” valiosa que ajuda as empresas a moldar e enriquecer a experiência de mobilidade do cliente final.

 

Mobilidade como Serviço e Mobilidade Compartilhada

Falando em experiências, “Aproximar-se dos consumidores e focar em suas necessidades será o único caminho para o sucesso das montadoras,” afirma Carla Almeida, da Bright Consulting. “A experiência do cliente deve ser a nova prioridade, e a mobilidade como serviço (MaaS) é um tema em alta que muitas empresas do setor estão considerando para se diferenciar e explorar novos mercados.”

Reconhecendo que menos consumidores estão interessados na posse tradicional de carros, montadoras brasileiras estão apostando no mercado de MaaS. Um exemplo é o Fiat Mobility, serviço de assinatura lançado pela Stellantis no Brasil, voltado para motoristas de aplicativos, entregadores e uso privado. Modelos de negócios como esse oferecem a flexibilidade e conveniência que consumidores e operadores de frotas cada vez mais esperam.

 

Manufatura Inteligente com uma Cadeia de Suprimentos Resiliente

De VEs a configurações personalizadas de veículos e, futuramente, carros autônomos, a demanda por uma variedade maior e mais complexa de veículos está levando montadoras como a General Motors do Brasil e seus parceiros na cadeia de suprimentos a abandonar abordagens lineares tradicionais de produção. Elas buscam novas formas de atender às expectativas dos clientes de maneira eficiente e lucrativa. A manufatura modular, na qual veículos e componentes são construídos em “células” de produção altamente automatizadas dentro da fábrica, será essencial para produzir diferentes modelos em escala, com flexibilidade para se ajustar à demanda.

Para sustentar essa evolução, as montadoras precisam construir redes de suprimentos mais resilientes, nas quais empresas alinhadas tomem decisões baseadas em informações em tempo real. “As montadoras transformadas criarão modelos digitais de suas cadeias de suprimentos que não apenas reportarão desempenho e condições atuais, mas também permitirão simulações precisas de cenários para planejamento estendido,” destaca Carla Almeida.

 

Centralidade no Cliente

Tudo isso sugere que é hora de as montadoras redefinirem suas metas estratégicas para conquistar uma fatia maior do “orçamento de mobilidade” dos consumidores. Isso significa entender profundamente indivíduos, famílias e empresas, desenvolvendo soluções de mobilidade que criem lealdade à marca por meio de uma experiência superior. Opções de varejo digital, como a compra sem contato por meio de uma experiência omnichannel fluida envolvendo concessionárias, fabricantes e outros prestadores de serviços, podem ser uma dessas soluções. O modelo de veículo por assinatura é outro exemplo promissor.

Independentemente do caminho escolhido, o sucesso dependerá da capacidade das montadoras de compreender o ponto de vista dos clientes e colocar seus feedbacks no centro de cada decisão, do design e engenharia à manufatura, vendas e experiência dentro do veículo.

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