A mudança climática deixou de ser um tópico de conferência para se tornar uma questão urgente no mundo dos negócios. Em Minas Gerais, um novo movimento tem ganhado tração: o crescimento acelerado das green techs — startups que desenvolvem soluções voltadas à sustentabilidade e ao meio ambiente. Em apenas um ano, o número dessas iniciativas saltou de 14 para 22, superando até mesmo o volume de startups voltadas ao tradicional agronegócio mineiro.
De acordo com a GORE-TEX Sustainability Report, esse crescimento está diretamente relacionado à demanda por inovação responsável, aliada à pressão do mercado por resultados ambientais mensuráveis. O avanço das green techs acompanha a necessidade de criar modelos de negócios que não apenas evitem impactos negativos, mas também contribuam ativamente para a regeneração dos recursos naturais.
Startups ambientais atraem atenção em um cenário de crise climática
A chamada “economia verde” ganhou força nos últimos anos, impulsionada por consumidores mais conscientes, regulações ambientais e, claro, por oportunidades de negócio. Em Minas Gerais, essa tendência se materializa nas green techs — empreendimentos inovadores focados em soluções para os desafios socioambientais mais urgentes. Segundo o Sebrae, o crescimento dessas startups foi de 57% em um ano, ultrapassando até mesmo as agrotechs, tradicionalmente fortes no Estado.
A conexão entre os setores de maior impacto ambiental e essas soluções emergentes é evidente. O agro e a mineração, juntos, são responsáveis por mais da metade das emissões de gases de efeito estufa em Minas. Por isso, se tornaram clientes estratégicos dessas startups. Iniciativas como a Verde Acqua, que une aquicultura com cultivo sustentável de hortaliças, mostram como é possível gerar valor econômico com impacto ambiental positivo.
Fique por dentro!
Green techs são startups que desenvolvem soluções voltadas à sustentabilidade e à redução de impactos ambientais. Em Minas Gerais, elas cresceram 57% em um ano devido à alta demanda por inovação ambiental nos setores de agro, mineração e indústria, segundo dados do Sebrae Minas.
As startups de impacto em Minas atuam principalmente com reciclagem e gestão de resíduos (18,7%), redução de emissões de gases de efeito estufa (18,33%) e uso sustentável de recursos naturais (17,59%), conforme levantamento do Sebrae.
A COP30, que será realizada em Belém em 2025, é uma vitrine global para soluções climáticas. Startups brasileiras poderão apresentar suas inovações na Zona Verde do evento, conectando-se com investidores e lideranças globais do setor ambiental.
Você sabia?
Mais de 79% das startups de impacto em Minas Gerais têm foco direto em desafios ambientais, e 65% delas atuam especificamente na mensuração de impactos socioambientais, como emissões de carbono, uso de água e resíduos gerados. Essa priorização mostra que sustentabilidade deixou de ser discurso e virou estratégia de mercado.
De acordo com levantamento do Sebrae Minas, as principais frentes de atuação dessas empresas são reciclagem e gestão de resíduos (18,7%), redução de emissões (18,33%) e uso consciente de recursos naturais (17,59%).
Tecnologia e impacto positivo: a nova equação do lucro
A ascensão das green techs está inserida em um contexto global de transição para uma economia de baixo carbono. A Agenda 2030 da ONU, com seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), tem sido um vetor importante nesse movimento. O professor Fábio Avelar, da Fundação Dom Cabral, destaca que metas relacionadas à monetização de benefícios ambientais, como o mercado de carbono, estão criando oportunidades reais para empreendedores visionários.
Além disso, a necessidade de medir e reportar os impactos ambientais vem acelerando o desenvolvimento de tecnologias voltadas para ESG. Segundo dados do Sebrae, 65% das green techs têm como foco a mensuração de impactos. Isso inclui desde softwares para rastreabilidade até soluções para reciclagem e redução de emissões. Esse movimento tem estimulado o surgimento de negócios como a Biosfera Soluções, que transforma resíduos industriais em fertilizantes agrícolas e insumos para construção civil.
Quando resíduos viram valor: economia circular ganha protagonismo
Startups como a Biosfera Soluções e a própria Verde Acqua estão mostrando que, no mundo dos negócios, lixo pode ser sinônimo de lucro. Em vez de serem tratados como passivos ambientais, os resíduos são transformados em ativos estratégicos. A Verde Acqua, por exemplo, produz um biofertilizante orgânico a partir das carcaças de peixes, e estuda utilizar biogás do processo de fermentação como fonte de energia. Isso fecha o ciclo da produção com impacto ambiental zero.
O caso da Biosfera também chama atenção. Com seu Biocarbon System, a empresa já foi premiada nacionalmente por transformar água amoniacal — um resíduo tóxico da siderurgia — em fertilizante nitrogenado. Além disso, contribui para a pavimentação de estradas rurais com resíduos de siderurgia. Essas soluções não só evitam descarte inadequado, como criam infraestrutura para comunidades e fortalecem a economia local. A sustentabilidade, aqui, é prática e escalável.
COP30: oportunidade global para o Brasil se destacar na agenda climática
Em novembro, Belém será palco da COP30, a Conferência da ONU sobre o Clima, e as green techs brasileiras devem aproveitar a vitrine internacional. Para Agmar Abdon, analista do Sebrae Minas, a Zona Verde do evento é um verdadeiro marketplace de inovação sustentável, onde startups podem apresentar soluções para investidores e players globais.
Henrique Eleto, CEO da Biosfera, reforça o papel estratégico do Brasil no combate à crise climática. Para ele, além de adotar práticas mais responsáveis, é preciso mudar o mindset em relação aos resíduos — nas empresas e nas casas. “Ainda não separamos lixo doméstico corretamente. Como esperar soluções corporativas se o básico ainda não é feito?”, provoca. As green techs de Minas Gerais, ao que tudo indica, estão dispostas a liderar essa transformação — com inovação, impacto real e visão de futuro.