Indústria 4.0 deixou de ser novidade e já virou parte da rotina das fábricas

O relatório 2025 da Rockwell mostra que IA, cloud e automação deixaram de ser fetiches tecnológicos para se tornarem ferramentas concretas de produtividade
Chão de fábrica moderno da indústria 4.0 com operadores e tecnologias digitais integradas como IA e sensores industriais.

Por muito tempo, falar em Indústria 4.0 era imaginar um futuro cheio de robôs, inteligência artificial e fábricas totalmente automatizadas. Mas essa visão futurista já virou passado: a revolução tecnológica industrial não é mais uma promessa — ela está em pleno funcionamento e moldando o presente das operações industriais nos Estados Unidos e em outros países.

Segundo o State of Smart Manufacturing Report 2025, elaborado pela Rockwell Automation, o entusiasmo que cercava tecnologias como a inteligência artificial generativa (GenAI) se acomodou. O que antes era visto como inovação disruptiva passou a ser tratado como mais uma ferramenta dentro da caixa. A sensação de novidade deu lugar à necessidade de aplicar a tecnologia de forma estratégica, concreta e mensurável.

 

Do deslumbramento à aplicação prática: o novo estágio da indústria digital

A edição de 2025 do relatório da Rockwell é mais enxuta e direta que a do ano anterior, refletindo um cenário onde a transformação digital já deixou de ser diferencial competitivo e passou a ser um pré-requisito para a sobrevivência. As tecnologias 4.0, incluindo IA, cloud computing, machine learning e automação avançada, agora fazem parte do “novo normal” operacional das indústrias.

Ainda segundo o estudo, 81% das empresas estão acelerando suas iniciativas digitais em resposta aos desafios atuais: escassez de mão de obra qualificada, riscos cibernéticos crescentes e fragilidade nas cadeias de suprimento. Isso indica uma mudança clara de mentalidade — de experimentação para consolidação. O foco agora é fazer funcionar bem e escalar soluções com ROI comprovado.

 

Prioridades tecnológicas: nuvem e IA ganham espaço no chão de fábrica

A computação em nuvem (Cloud/SaaS) lidera o ranking de prioridades tecnológicas das empresas, ultrapassando outras inovações por oferecer ganhos consistentes em agilidade, redução de custos e eficiência. A transição dos servidores locais para plataformas em nuvem permite que as equipes de TI se concentrem mais em inovação e menos em manutenção.

A inteligência artificial aparece como o segundo maior foco de investimento. Ao contrário da visão popular, ela não está sendo aplicada de forma genérica. A maioria das empresas está direcionando a IA para áreas muito específicas, como controle de qualidade, cibersegurança e gestão da cadeia de suprimentos. Essa abordagem mais madura marca o avanço da IA como uma aliada operacional — e não como um enfeite futurista.

 

IA no controle de qualidade, na segurança e na produtividade da equipe

Cerca de 50% dos entrevistados planejam utilizar IA para inspeção de qualidade nos próximos 12 meses, uma alta em relação aos 45% do ano anterior. Essa aplicação, que já era usada em grandes players com sistemas de visão para identificar falhas em peças em linha de produção, agora chega às pequenas e médias indústrias como padrão de mercado.

Outro dado relevante é que 49% pretendem empregar IA/ML em soluções de cibersegurança. Com o avanço das ameaças digitais e o uso crescente de IA por criminosos cibernéticos, as fábricas entraram em uma verdadeira corrida armamentista digital. Além disso, 41% dos líderes planejam usar IA para suprir lacunas de mão de obra, treinando suas equipes para assumirem funções mais estratégicas e menos operacionais. 

 

Gente conectada: o papel das habilidades humanas na nova era industrial

Apesar do avanço das tecnologias, o fator humano segue indispensável. O relatório mostra que 83% das empresas consideram o pensamento analítico e a colaboração como as competências mais valiosas para novos profissionais da indústria. Em outras palavras: o futuro da manufatura depende de pessoas que saibam pensar com dados, interpretar cenários e atuar em times multidisciplinares.

Interessante notar que a preocupação com a escassez de talentos caiu no ranking: o obstáculo nº 1 de 2024 passou a ocupar o 5º lugar em 2025. Essa mudança reflete um leve arrefecimento na pressão por contratação imediata, ao passo que cresce a demanda por requalificação interna e desenvolvimento de novas habilidades em times já existentes. 

 

O desafio da maturidade: escalar com inteligência e consistência

Embora muitas empresas já tenham dado os primeiros passos, a jornada ainda está longe de terminar. Apenas 20% operam tecnologias 4.0 em larga escala, enquanto outros 56% estão em fase piloto, segundo a Rockwell. Isso mostra que a maturidade digital ainda é um processo em construção — e que o verdadeiro diferencial está na capacidade de escalar com consistência.

Além disso, a dificuldade histórica de lidar com dados ainda persiste: apenas 44% dizem usar dados de forma eficaz, mesmo após anos de investimentos em “lakes” e dashboards. Isso sinaliza que o sucesso da transformação digital não depende apenas de software ou infraestrutura, mas de estratégia, capacitação e visão de longo prazo. 

 

Olhando para o Brasil: onde estamos nessa jornada?

No cenário nacional, o movimento ainda é mais lento, mas já há sinais de tração. Indústrias brasileiras, especialmente no setor automotivo, alimentício e farmacêutico, vêm adotando soluções de manufatura inteligente com foco em rastreabilidade, eficiência energética e produtividade. Porém, o grande desafio segue sendo a integração entre sistemas legados e novas tecnologias, além da capacitação de equipes técnicas.

Para as empresas brasileiras, o relatório da Rockwell serve como um espelho — e também como um mapa. A mensagem é clara: não se trata mais de ser pioneiro, mas de não ficar para trás. A Indústria 4.0 não é mais uma vantagem competitiva. Ela é o novo padrão. 

 

A revolução silenciosa que já está acontecendo

A Indústria 4.0 não perdeu o brilho — ela simplesmente amadureceu. Deixou de ser manchete para se tornar parte do processo produtivo, da rotina das operações, das decisões do dia a dia. Isso é um excelente sinal: a inovação finalmente encontrou seu lugar dentro da estratégia, gerando valor tangível, sustentável e alinhado aos objetivos do negócio.

O verdadeiro desafio agora é garantir que essa transformação não seja privilégio das grandes corporações. É hora de democratizar o acesso às tecnologias, tornar a inovação inclusiva e permitir que empresas de todos os tamanhos possam evoluir com inteligência, segurança e propósito. A revolução não é barulhenta — mas já está em curso, e quem não se movimentar corre o risco de ficar para trás.

Fique por dentro!

Você sabia?

O termo “Indústria 4.0” foi usado pela primeira vez em 2011, na Alemanha, como parte de um projeto estratégico do governo para impulsionar a automação e a digitalização da manufatura.

Desde então, o conceito evoluiu tanto que hoje, nos EUA, mais de 90% das grandes indústrias já utilizam pelo menos uma tecnologia 4.0, como sensores inteligentes, IA ou sistemas ciberfísicos.

Mas o que poucos sabem é que, segundo a Deloitte, empresas que implementam essas tecnologias com foco em integração de dados têm até 20% mais produtividade do que suas concorrentes. 

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